Eu me sento na minha velha poltrona vermelha. Olho
para o telefone, mas não tenho pra quem ligar. Levanto-me e vou até a geladeira
pegar um copo de água. Volto para a poltrona de couro e encaro novamente o
aparelho. Silêncio, um nada perturbador que faz mais barulho que uma banda de escola
de samba.
Pego o caderno de couro
envelhecido e vejo os números, muitos riscados. Não me lembro da maioria dos
rostos dos nomes que estão escritos ali. Fecho o caderno e a solidão me invade
como um tsunami, devastando tudo o que encontra pelo caminho. Não consigo parar
de encarar o telefone é como se ele ganhasse vida apenas com o meu olhar e
ficasse me implorando para tocar mais uma vez.
Deixo-me levar pela curiosidade e aperto oito
números aleatórios. Uma voz desconhecida atende e fala comigo, é um homem que
parece ter a minha idade. Eu entro em pânico e fico muda, ele vai me achar
maluca, penso. Ele insiste agora um pouco nervoso, exige saber quem está na
outra linha.
Respiro fundo outra vez. Explico tudo e peço
para que ele compreenda a minha solidão. Ele não fala nada. Minhas mãos suam
“ele sabe que sou maluca” penso agora como uma constatação. Para evitar maiores
constrangimentos eu desligo. Encaro o aparelho novamente, de alguma forma,
torço para que ele tenha identificador de chamadas para retornar a ligação. Vou
ao banheiro, só por distração.
O telefone continua silencioso, gritando pra
mim que mais uma vez eu fui rejeitada. Minhas mãos tremem, sinto que mais uma
crise de pânico se aproxima. Os números dançam na minha frente. Está quente.
Confiro às horas. Ligo para o mesmo número, chama, chama. Meu coração dispara.
Cai na secretária. Alô?
Postar um comentário